15 maio 2009

"O Poeta morava no fundo da floresta, numa torre muito alta e muito antiga, coberta de heras, de glicínias e de roseiras. Oriana voou sobre as árvores através do primeiro azul da noite. A porta da torre estava aberta, mas oriana entrou pela janela com a brisa. As rosas da trepadeira estremeceram e dançaram quando ela chegou.
- Hoje vens tarde - disse o Poeta.
- Estive debruçada sobre o rio a ver o meu reflexo - respondeu Oriana. - Demorei-me porque fiquei encantada com a minha beleza.
- Oriana - pediu o Poeta -, encanta a noite.
Então Oriana tocou com a sua varinha de condão na noite e a noite ficou encantada.
E o Poeta disse-lhe:
- O que tu trazes é muito mais do que a beleza. No mundo há muitas meninas bonitas. Mas só tu é que podes encantar a noite porque és uma fada.
Então Oriana sentou-se na beira da janela e contou as histórias maravilhosas dos cavalos do vento, da caverna dos dragões e dos anéis de Saturno. O Poeta disse-lhe os seus versos, que eram claros e brilhantes como estrelas. Depois ficaram os dois calados enquanto a lua subia no céu. Até que um sino trouxe de longe o som das doze badaladas da meia-noite e Oriana e o Poeta despediram-se."

A Fada Oriana, de Sophia de Mello Breyner Andersen

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